Os e-books vão tomar o lugar dos livros impressos?

27/03/2014 17:29
:: Por Juliana Angelim ::
 
 
Nas últimas décadas, essa indagação tem sido frequente em meio a especialistas e entre interessados no assunto.
 
De sinônimo de intelectualidade e de status social a motivo de punição de seus leitores por desrespeito às autoridades, o livro impresso assume vários papéis e importâncias ao longo do tempo, mas sempre conservando, como maior significado, a difusão de ideias e de conhecimentos pelo e para o homem.
 
Com o desenvolvimento, cada vez mais acelerado, das tecnologias e o advento de uma chamada “era da internet”, o livro, tal qual temos notícia de sua existência desde os tempos antigos, deixa de existir em um suporte exclusivamente material e passa a estar disponível virtualmente, nas telas de computadores, de dispositivos específicos para leitura (e-readers) e até mesmo de celulares: trata-se do e-book (“livro eletrônico” ou eletronic book, do inglês).
 
Mais leves, uma vez que milhares de e-books podem ser armazenados em um único dispositivo eletrônico; mais ambientalmente sustentáveis, porque há economia de papel e árvores para impressão; e mais baratos, já que não precisam de um suporte físico para existir. Entretanto, apesar das vantagens do e-book com relação ao livro impresso, os dois formatos não vivem uma disputa por mercado consumidor, mas procuram coexistir para atender às necessidades específicas dos leitores.
 
Não há disputa - “Ao contrário, são aliados, pois um formato complementa o outro. Muitas vezes, não se tem o livro que se quer no formato eletrônico e apenas em papel e, outras vezes, ocorre o inverso. O que se sabe é a concorrência das duas versões em relação ao custo versus o beneficio, que diz respeito à relação entre custo e tempo da publicação eletrônica e da publicação em papel. Esta leva mais tempo para sua publicação e, não raro, o preço é maior pelo investimento que se faz”, afirma a diretora da Biblioteca Central (BC) da UFPA, Graça Pena.
 
Breve histórico – Apesar de não existir um consenso sobre quem é o inventor do primeiro livro eletrônico/digital, as iniciativas para sua produção surgiram a partir do final do século XX. O Index Thomisticus, índice anotado dos trabalhos de Tomás de Aquino, por Roberto Busa, pode ser considerado o primeiro e-book da história. E um dos primeiros livros a ser lido na tela de um computador foi o Ridding of the bullet, do escritor americano Stephen King, que, primeiro, foi disponibilizado em formato eletrônico e, só depois, foi impresso em papel.
 
Já não é difícil encontrar livros disponíveis virtualmente sem nunca terem sido impressos antes. Com a popularização do uso da internet pelo mundo, os e-books podem ser comprados por pequenos valores ou mesmo estarem disponíveis para download grátis, o que representa uma alternativa de divulgação para o trabalho de um autor, sem grandes recursos, para procurar uma editora que imprima sua obra, por exemplo.
 
No Brasil, Miséria e grandeza do amor de Benedita, de João Ubaldo Ribeiro, e Os anjos de Badaró, de Mario Prata, foram os primeiros e-books publicados, ambos adquirindo versão impressa apenas posteriormente. Atualmente, há editoras que já editam livros eletrônicos no Brasil, a exemplo da editora universitária da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
 
Investimento - De acordo com o que explica o professor da Faculdade de Biblioteconomia da UFPA, Rubens Ferreira, bibliotecas dos países do Hemisfério Norte têm investido cada vez mais na aquisição de livros digitais e/ou equipamentos de leitura de e-books, com capacidade para armazenar milhares de títulos. Mas, ainda que esta seja uma tendência mundial, no Hemisfério Sul, esses resultados são obtidos mais lentamente. "Uma pesquisa realizada, em 2012, pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), sobre o mercado do livro digital no Brasil revela que, das 126 editoras associadas, 68,25% já comercializam e-books, porém os produtos representam apenas 1% do total do faturamento das vendas de metade delas. Somente quatro editoras têm faturamento superior a 70%. Os dados mostram, ainda, que metade dos associados se sente insegura quanto ao formato a utilizar, ou não conhece suficientemente as tecnologias e os modelos disponíveis para o investimento maior na produção e na venda de livros em formatos digitais", afirma o professor.
 
Segundo Graça Pena, independente do formato, “o livro é a expressão maior da cultura da humanidade. Todo livro contém conhecimento que deve ser repassado, portanto, é considerado um meio de se obter a informação necessária. Os interesses são múltiplos e complexos e, dependendo do conteúdo abordado, atende às diversas demandas da sociedade, da literatura, da ciência, da tecnologia, das ciências econômicas etc”.
 
BC-UFPA – Fundada em 1962, a Biblioteca Central Prof, Dr. Clodoaldo Fernando Ribeiro Beckmann (BC-UFPA) coordena 37 bibliotecas que compõem o Sistema de Bibliotecas (SIBI) em Belém e nos campi de Abaetetuba, Altamira, Bragança, Breves, Cametá, Castanhal, Marabá I e II, Santarém, Soure e Tucuruí. Aberta à comunidade em geral para consulta de seu acervo (apenas o serviço de empréstimo é voltado apenas aos estudantes universitários da Instituição), o número de usuários, ao dia, na BC chega de 2 a 3 mil. O horário de funcionamento é de segunda a sexta, das 8h às 20h, e aos sábados, das 8h às 12h.
 
A coleção da BC inclui mais de 130 mil títulos de livros eletrônicos, sobre todas as áreas do conhecimento, da EBSCO Host, da coleção do SciELO Books, do Portal Domínio Público, do MEC e do acervo digital da Biblioteca Nacional.
 
Ler e escrever na era da internet – Com o subtítulo “realização do virtual ou virtualização do real”, ocorreu, de 2005 a 2008, a primeira edição do Projeto Ler e Escrever na Era da Internet, da Faculdade de Línguas Estrangeiras Modernas (Falem) da UFPA. O projeto teve continuação duas outras vezes: a primeira, de 2010 a 2012, com o subtítulo “dos gêneros aos e-gêneros, limites e deslimites”; e a segunda, ainda no ano de 2012, com o subtítulo “repetir para aprender, criar para renovar – leitura, interpretação e ensino”.
 
As atividades de pesquisa realizadas tiveram por base a leitura e a coleta de dados de obras literárias, textos de autoficção, de crítica biográfica e textos postados em redes sociais, blogs e outros ambientes virtuais. O objetivo é fazer uma leitura crítica desse material para descrever, analisar e comentar textos de todas as épocas, tendo o papel ou a tela como suporte, abrangendo, assim, práticas antigas e novas de escrita, além de criações surgidas das novas práticas sociodiscursivas presentes no espaço virtual.
 
“Estudar a produção artística e a vivência cultural da nossa época, a “era da internet” é também, e não menos importante, retornar ao presente para olhar, de uma nova maneira, o que foi feito no passado, para, entre outras possibilidades, intervir, por exemplo, na forma de ler um texto tradicional, recriando-o de maneira a dar continuidade à sua recepção, na direção de horizontes sempre novos”, finaliza a coordenadora do projeto, professora Izabel Soares.
 
Juliana Angelim é Assessoria de Comunicação da UFPA - Universidade Federal do Pará